domingo, 8 de janeiro de 2017

Desenganos da vida metaforicamente



Desenganos da vida metaforicamente
É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.
É planta, que de abril favorecida,
Por mares de soberba desatada,
Florida galeota empavesada,
Sulca ufana, navega destemida.
É nau enfim, que em breve ligeireza
Com presunção de Fênix generosa,
Galhardias apresta, alentos preza:
Mas ser planta, ser rosanau vistosa
De que importa, se aguarda sem defesa
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?

(Gregório de Matos)
" Vaidade das vaidades, diz o pregador; tudo é vaidade" 
Elesiastes 1:2
Traçando paralelo com  o Eclesiastes, Gregório de Matos evidencia a efemeridade da vida, bem como sua vaidade. A Rosa, a Planta e a Nau podem ser comparadas com o nascimento , a juventude e a velhice, tudo num só dia!
Veja o questionamento na última estrofe:
"De que importa"
Trata-se de tema recorrente no Arcadismo e no Barroco sobre a fugacidade da vida, ou seja, só existe o HOJE.
Vocabulário:
  • Airosa = esbelto, gracioso
  • Soberba = orgulho, altivez
  • Galheota = pequena embarcação a remo, usada para o transporte do rei.
  • Presumida = vaidosa
  • De abril favorecida = favorecida pela primavera que inicia em abril na Europa.
  • Empavesado = enfeitado, adornado, guarnecido de paveses (=proteção nas embracações)
  • Ufana = que se orgulha de algo, vaidoso
  • Fênix = divindade da mitologia egípicia, símbolo da imoertalidade, personificada em uma ave que renascia das próprias cinzas.
  • Galhardia = garbo, elegância
  • Aprestar = preparar com prontidão
  • Alento = sopro, bafejo
  • Penha = penhasco, rochedo
Fonte da Poesia e Vocabulário: 
PLATÃO & FIORIN. Para entender o texto: leitura e redação. 2.ed. São Paulo: Ática, 1997.

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