Quem
não passou pela experiência de estar lendo um texto e defrontar-se com
passagens já lidas em outros? Os textos conversam entre si em um diálogo
constante. Esse fenômeno tem a denominação de intertextualidade.
O prefixo “ inter” de origem latina, nos dá a noção de “ entre”. Assim, os textos que se relacionam, "conversam" entre si. É comum encontrar marcas ou referências de um texto em outro. Resumindo: intertextualidade é a maneira como os textos se relacionam.
O prefixo “ inter” de origem latina, nos dá a noção de “ entre”. Assim, os textos que se relacionam, "conversam" entre si. É comum encontrar marcas ou referências de um texto em outro. Resumindo: intertextualidade é a maneira como os textos se relacionam.
Dialogam entre si as seguintes obras:
Confira na sequência:
1. O Samba Memórias
de um sargento de Milícias de Paulinho da Viola, Século XXI foi baseado no
Folhetim de Manuel Antônio de Almeida , pertencente ao Romantismo Brasileiro
século XIX
2. Todo Mundo e
Ninguém, de Carlos Drummond de Andrade, (Modernismo brasileiro segunda fase –
século XX) baseado na obra Auto da
Lusitânia, de Gil Vicente ( Humanismo século XV)
3. Canção do
Exílio, de Gonçalves Dias, romantismo brasileiro 1ª. Geração- século XIX,
dialoga com Canção do Exílio de Murilo Mendes, modernismo brasileiro- século
XX.
4. Poema de Manuel Antonio de Almeida( Romantismo) e a paródia feita por Manuel Bandeira( Modernismo)
4. Poema de Manuel Antonio de Almeida( Romantismo) e a paródia feita por Manuel Bandeira( Modernismo)
1-
Memórias De Um Sargento De Milícias
Memórias De Um Sargento De Milícias
Paulinho Da Viola
Era o tempo do rei
Quando aqui, chegou
Um modesto casal feliz pelo recente amor
Leonardo, tornando-se meirinho
Deu a Maria Hortaliça um novo lar
Um pouco de conforto e de carinho
Dessa união, nasceu
Um lindo varão
Que recebeu o mesmo nome do seu pai
Personagem central da história que contamos neste carnaval
Mas um dia Maria
Fez a Leonardo uma ingratidão
Mostrando que não era uma boa companheira
Provocou a separação
Foi assim que o padrinho passou
A ser do menino tutor
A quem lhe deu toda dedicação
Sofrendo uma grande desilusão
Outra figura importante em sua vida
Foi a comadre parteira popular
Diziam que benziam de quebranto
A beata mais famosa do lugar
Havia nesse tempo aqui no Rio
Tipos que devemos mencionar
Chico Juca, era mestre em valentia
E por todos se fazia, respeitar
O reverendo amante da cigana
Preso pelo Vidigal
O justiceiro
Homem de grande autoridade
Que à frente dos seus granadeiros
Era temido pelo povo da cidade
Luisinha primeiro amor
Que Leonardo conheceu
E que Dona Maria, a outro como esposa concedeu
Somente foi feliz
Quando José Manuel
Morreu
Nosso herói
Novamente se apaixonou
Quando com sua viola
A mulata Vidinha, esta singela modinha cantou:
Se os meus suspiros pudessem
Aos seus ouvidos chegar
Verias que uma paixão
Tem o poder de assassinar
Manuel Antônio de Almeida - Livros completos
"Memórias de um sargento de milíciaS
"Memórias de um sargento de milíciaS
TOMO I
ORIGEM, NASCIMENTO E
BATIZADO
Era no tempo do rei.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da
Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo — O canto dos
meirinhos —; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de
encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não
pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra
caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida,
respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia
judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era
entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora,
os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se
passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e
finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.
Daí sua influência moral.
Mas tinham ainda outra influência, que é justamente a que
falta aos de hoje: era a influência que derivava de suas condições físicas. Os
meirinhos de hoje são homens como quaisquer outros; nada têm de imponentes, nem
no seu semblante nem no seu trajar, confundem-se com qualquer procurador,
escrevente de cartório ou contínuo de repartição. Os meirinhos desse belo tempo
não, não se confundiam com ninguém; eram originais, eram tipos: nos seus
semblantes transluzia um certo ar de majestade forense, seus olhares calculados
e sagazes significavam chicana. Trajavam sisuda casaca preta, calção e meias da
mesma cor, sapato afivelado, ao lado esquerdo aristocrático espadim, e na
ilharga direita penduravam um círculo branco, cuja significação ignoramos, e
coroavam tudo isto por um grave chapéu armado. Colocado sob a importância
vantajosa destas condições, o meirinho usava e abusava de sua posição. Era
terrível quando, ao voltar uma esquina ou ao sair de manhã de sua casa, o
cidadão esbarrava com uma daquelas solenes figuras, que, desdobrando junto dele
uma folha de papel, começava a lê-la em tom confidencial! Por mais que se
fizesse não havia remédio em tais circunstâncias senão deixar escapar dos
lábios o terrível — Dou-me por citado. — Ninguém sabe que significação
fatalíssima e cruel tinham estas poucas palavras! eram uma sentença de
peregrinação eterna que se pronunciava contra si mesmo; queriam dizer que se
começava uma longa e afadigosa viagem, cujo termo bem distante era a caixa da
Relação, e durante a qual se tinha de pagar importe de passagem em um
sem-número de pontos; o advogado, o procurador, o inquiridor, o escrivão, o
juiz, inexoráveis Carontes, estavam à porta de mão estendida, e ninguém passava
sem que lhes tivesse deixado, não um óbolo, porém todo o conteúdo de suas
algibeiras, e até a última parcela de sua paciência.
Mas voltemos à esquina. Quem passasse por aí em qualquer dia
útil dessa abençoada época veria sentado em assentos baixos, então usados, de
couro, e que se denominavam — cadeiras de campanha — um grupo mais ou menos
numeroso dessa nobre gente conversando pacificamente em tudo sobre que era
lícito conversar: na vida dos fidalgos, nas notícias do Reino e nas astúcias
policiais do Vidigal. Entre os termos que formavam essa equação meirinhal
pregada na esquina havia uma quantidade constante, era o Leonardo-Pataca.
Chamavam assim a uma rotunda e gordíssima personagem de cabelos brancos e carão
avermelhado, que era o decano da corporação, o mais antigo dos meirinhos que
viviam nesse tempo. A velhice tinha-o tornado moleirão e pachorrento; com sua
vagareza atrasava o negócio das partes; não o procuravam; e por isso jamais
saía da esquina; passava ali os dias sentado na sua cadeira, com as pernas
estendidas e o queixo apoiado sobre uma grossa bengala, que depois dos
cinqüenta era a sua infalível companhia. Do hábito que tinha de queixar-se a
todo o instante de que só pagassem por sua citação a módica quantia de 320
réis, lhe viera o apelido que juntavam ao seu nome.
Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo
algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao
Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de
que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas
viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da
hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona. O
Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade
mal-apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria
encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto
dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito.
A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do
gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da
mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra:
levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena
de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais
fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares,
que pareciam sê-lo de muitos anos.
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos
enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente
os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho,
formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo,
esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas
sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o
que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta
história.
Chegou o dia de batizar-se o rapaz: foi madrinha a parteira;
sobre o padrinho houve suas dúvidas: o Leonardo queria que fosse o Sr. juiz;
porém teve de ceder a instâncias da Maria e da comadre, que queriam que fosse o
barbeiro de defronte, que afinal foi adotado. Já se sabe que houve nesse dia
função: os convidados do dono da casa, que eram todos dalém-mar, cantavam ao
desafio, segundo seus costumes; os convidados da comadre, que eram todos da
terra, dançavam o fado. O compadre trouxe a rabeca, que é, como se sabe, o instrumento
favorito da gente do ofício. A princípio o Leonardo quis que a festa tivesse
ares aristocráticos, e propôs que se dançasse o minuete da corte. Foi aceita a
idéia, ainda que houvesse dificuldade em se encontrarem pares. Afinal
levantaram-se uma gorda e baixa matrona, mulher de um convidado; uma
companheira desta, cuja figura era a mais completa antítese da sua; um colega
do Leonardo, miudinho, pequenino, e com fumaças de gaiato, e o sacristão da Sé,
sujeito alto, magro e com pretensões de elegante. O compadre foi quem tocou o
minuete na rabeca; e o afilhadinho, deitado no colo da Maria, acompanhava cada
arcada com um guincho e um esperneio. Isto fez com que o compadre perdesse
muitas vezes o compasso, e fosse obrigado a recomeçar outras tantas.
Depois do minuete foi desaparecendo a cerimônia, e a
brincadeira aferventou, como se dizia naquele tempo. Chegaram uns
rapazes de viola e machete: o Leonardo, instado pelas senhoras, decidiu-se a
romper a parte lírica do divertimento. Sentou-se num tamborete, em um lugar
isolado da sala, e tomou uma viola. Fazia um belo efeito cômico vê-lo, em
trajes do ofício, de casaca, calção e espadim, acompanhando com um monótono
zunzum nas cordas do instrumento o garganteado de uma modinha pátria. Foi nas
saudades da terra natal que ele achou inspiração para o seu canto, e isto era
natural a um bom português, que o era ele. A modinha era assim:
Quando estava em minha terra,
Acompanhado ou sozinho,
Cantava de noite e de dia
Ao pé dum copo de vinho!
Foi executada com atenção e aplaudida com entusiasmo; somente quem
não pareceu dar-lhe todo o apreço foi o pequeno, que obsequiou o pai como
obsequiara ao padrinho, marcando-lhe o compasso a guinchos e esperneios. À
Maria avermelharam-se-lhe os olhos, e suspirou.
O canto do Leonardo foi o derradeiro toque de rebate para
esquentar-se a brincadeira, foi o adeus às cerimônias. Tudo daí em diante foi
burburinho, que depressa passou à gritaria, e ainda mais depressa à algazarra,
e não foi ainda mais adiante porque de vez em quando viam-se passar através das
rótulas da porta e janelas umas certas figuras que denunciavam que o Vidigal
andava perto.
A festa acabou tarde; a madrinha foi a última que saiu,
deitando a bênção ao afilhado e pondo-lhe no cinteiro um raminho de arruda.
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2-
TODO MUNDO E NINGUÉM
Trecho de Auto da Lusitânia de Gil Vicente, adaptado por Carlos Drummond de Andrade
Ninguém: Tu estás a fim de quê ?
Todo Mundo: A fim de coisas buscar
que não consigo topar.
Mas não desisto, porque
O cara tem de teimar.
Ninguém: Me diz teu nome primeiro.
Todo Mundo: Eu me chamo Todo Mundo e
passo o dia e o ano inteiro correndo atrás de dinheiro, seja limpo ou seja
imundo.
Belzebu: Vale a pena dar ciência
e anotar isto bem, por ser fato
verdadeiro: Que Ninguém tem consciência
e Todo Mundo, dinheiro.
Ninguém: E o que mais procuras, hem?
Todo Mundo: Procuro poder e glória.
Ninguém: Eu cá não vou nessa
história.
Só quero virtude...Amém.
Belzebu: Mas o pai não se ilude
e traça: Livro Segundo.
Busca o poder Todo Mundo
e Ninguém busca virtude.
Ninguém: Que desejas mais, sabido?
Todo Mundo: Minha ação elogiada
Em todo e qualquer sentido.
Ninguém: Prefiro ser repreendido
quando der uma mancada.
Belzebu: Aqui deixo por escrito
o que querem, lado a lado:
Todo Mundo ser louvado
e Ninguém levar um pito.
Ninguém: E que mais, amigo meu?
Todo Mundo: Mais a vida. A vida, olé!
Ninguém: A vida? Não sei o que é.
A morte, conheço eu.
Belzebu: Esta agora é muito forte
e guardo para ser lida:
Todo Mundo busca a vida
e Ninguém conhece a morte.
Todo Mundo: Também quero o Paraíso,
mas sem ter que me chatear.
Ninguém: E eu, suando pra pagar
minhas faltas de juízo!
Belzebu: Para que sirva de aviso,
mais uma transa se escreve:
Todo Mundo quer Paraíso
e Ninguém paga o que deve.
Todo Mundo: Eu sou vidrado em tapear,
e mentir nasceu comigo.
Ninguém: A verdade eu sempre digo
sem nunca chantagear.
Belzebu: Boto anúncio na cidade,
deste troço curioso:
Todo Mundo é mentiroso
e Ninguém fala a verdade.
Ninguém: Que mais, bicho?
Todo Mundo: Bajular
Ninguém: Eu cá não jogo confete.
Belzebu: Três mais quatro igual a
sete.
O programa sai do ar.
Lero lero lero lero,
curro paco paco paco.
Todo Mundo é puxa-saco
Auto da Lusitânia - Gil Vicente
Gil Vicente
("Todo o Mundo" era um rico
mercador, e "Ninguém", um homem pobre. Belzebu e Dinato tecem
comentários espirituosos, fazem trocadilhos, procurando evidenciar temas
ligados à verdade, à cobiça, à vaidade, à virtude e à honra dos homens.)
Entra Todo o Mundo, rico mercador, e
faz que anda buscando alguma cousa que perdeu; e logo após, um homem, vestido
como pobre. Este se chama Ninguém e diz:
Ninguém: Que andas tu aí buscando?
Todo o Mundo: Mil cousas ando a
buscar:
delas não posso achar,
porém ando porfiando
por quão bom é porfiar.
Ninguém: Como hás nome, cavaleiro?
Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o
Mundo
e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro
e sempre nisto me fundo.
Ninguém: Eu hei nome Ninguém,
e busco a consciência.
Belzebu: Esta é boa experiência:
Dinato, escreve isto bem.
Dinato: Que escreverei, companheiro?
Belzebu: Que Ninguém busca
consciência.
e Todo o Mundo dinheiro.
Ninguém: E agora que buscas lá?
Todo o Mundo: Busco honra muito
grande.
Ninguém: E eu virtude, que Deus mande
que tope com ela já.
Belzebu: Outra adição nos acude:
escreve logo aí, a fundo,
que busca honra Todo o Mundo
e Ninguém busca virtude.
Ninguém: Buscas outro mor bem
qu'esse?
Todo o Mundo: Busco mais quem me
louvasse
tudo quanto eu fizesse.
Ninguém: E eu quem me repreendesse
em cada cousa que errasse.
Belzebu: Escreve mais.
Dinato: Que tens sabido?
Belzebu: Que quer em extremo grado
Todo o Mundo ser louvado,
e Ninguém ser repreendido.
Ninguém: Buscas mais, amigo meu?
Todo o Mundo: Busco a vida a quem ma
dê.
Ninguém: A vida não sei que é,
a morte conheço eu.
Belzebu: Escreve lá outra sorte.
Dinato: Que sorte?
Belzebu: Muito garrida:
Todo o Mundo busca a vida
e Ninguém conhece a morte.
Todo o Mundo: E mais queria o
paraíso,
sem mo Ninguém estorvar.
Ninguém: E eu ponho-me a pagar
quanto devo para isso.
Belzebu: Escreve com muito aviso.
Dinato: Que escreverei?
Belzebu: Escreve
que Todo o Mundo quer paraíso
e Ninguém paga o que deve.
Todo o Mundo: Folgo muito d'enganar,
e mentir nasceu comigo.
Ninguém: Eu sempre verdade digo
sem nunca me desviar.
Belzebu: Ora escreve lá, compadre,
não sejas tu preguiçoso.
Dinato: Quê?
Belzebu: Que Todo o Mundo é
mentiroso,
E Ninguém diz a verdade.
Ninguém: Que mais buscas?
Todo o Mundo: Lisonjear.
Ninguém: Eu sou todo desengano.
Belzebu: Escreve, ande lá, mano.
Dinato: Que me mandas assentar?
Belzebu: Põe aí mui declarado,
não te fique no tinteiro:
Todo o Mundo é lisonjeiro,
e Ninguém desenganado.
3-
Canção do Exílio
Canção do Exílio
(Gonçalves Dias)
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em
cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Canção do exílio
(Murilo Mendes)
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
4-
Manuel Antônio de Almeida
Mulher, irmã, escuta-me: não ames
Quando a teus pés um homem terno e curvo
Jurar amor, chorar pranto de sangue,
Não creias, não, mulher: ele te engana!
As lágrimas são galas da mentira
E o juramento manto da perfídia.
Gala = enfeite perfídia = deslealdade, traição
Manuel Bandeira
Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredite não Tereza
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
Cai fora.
EXERCÍCIOS
INSPER 2014
INTERTEXTUALIDADE
O humor da tirinha constrói-se por meio da
a) ambiguidade.
b) paródia.
c) metalinguagem.
d) ironia.
e) inversão de papéis.
RESPOSTA B
Comentário:
Paródia é, conforme o dicionário Houaiss, “obra literária,
teatral, musical etc. que imita outra obra (...)
com objetivo jocoso ou satírico; arremedo”. Trata-se também de intertextualidade, uma vez que a tira dialoga com famoso conto de fadas.
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